terça-feira, 20 de setembro de 2011

VANDER MELO PRAXEDES: NOVA PROMESSA DO TRIATLO TOCANTINENSE

1º Se 

nos


Olá, Vander,

1)Se tivéssemos que eleger, entre os inscritos, alguém realmente forte (no sentido estrito) certamente o seu nome seria lembrado, dada à sua excelente e impressionante forma física. Bombeiro, ciclista, nadador, corredor, triatleta, arquiteto, músico, ufa. É preciso ser realmente forte....Dá pra conciliar tudo isso? Revele-nos de onde vem todo esse preparo e vigor físico? Genética? Você sempre foi frequentador assíduo das salas de musculação? Isso seria fruto dos intensos treinos de ciclismo? Ou resultado da rotina diária no Corpo de Bombeiros?
R: Obrigado pela honra de poder participar da entrevista, e mais ainda, do 1º Desafio dos Fortes. Apesar de ficar agradecido com o elogio, não concordo que eu seja um atleta forte para essa prova. A previsão para o primeiro colocado, acredito que seja 56’00, e meu objetivo é conseguir terminá-la entre 1hora e 10min e 1 hora e 15 (algo entre 4’20” e 4’30”/km).
Realmente, essa conciliação é difícil, tanto que tive que abrir mão da música para me dedicar ao esporte. Antes, eu trabalhava, estudava em período integral e treinava quando desse, à noite, quando não tinha aula, eu tocava em bares e eventos pela cidade, para ajudar financeiramente em casa, no outro dia tudo se repetia. Nessa época eu ainda consegui ser campeão tocantinense de atletismo de pista nos 200m, 400m, revezamento 4x100 e salto em distância e ganhar alguns torneios de handebol, mas o rendimento não era satisfatório eu estava sempre muito cansado. Ano passado, tive que abrir mão da música para conseguir treinar e terminar a faculdade. No momento, só estou tendo que conciliar a vida de Bombeiro, Atleta e de “quase-marido” (estamos planejando o casamento para o próximo ano), que, apesar de difícil, está bem mais fácil que anos atrás.
Talvez eu tenha tido sorte com a genética. Sobre musculação, nunca consegui gostar. Se eu for contar, na minha vida toda, não fiz nem 30 treinos dentro de uma academia, ‘puxar ferro’ não é comigo, mas estou gostando do ‘treinamento funcional’ que meu treinador Marcão (da MT Assessoria Esportiva) está me passando, realmente é bem mais agradável, pois simula cada movimento executado durante as 3 modalidades(natação, ciclismo e corrida).
Por fim, sobre o serviço de bombeiro me ajudar no esporte, na verdade sempre foi o contrário. Quando ingressei na carreira militar, em 2006, fiz o curso de formação de soldados, já praticava ciclismo havia um ano e tinha feito 3 anos de atletismo. O curso durou 10 meses corridos e foi muito desgastante, mas o meu histórico esportivo, mesmo que pequeno, me ajudou bastante e consegui ser o primeiro colocado no curso de bombeiro, entre os 100 participantes.

2) É possível se afirmar que, hoje, entre os amadores do Tocantins, você seria definido como um bom corredor de rua. Mas... ao se falar em ciclismo, teríamos, sem dúvida,  que elencá-lo entre os melhores do nosso Estado. Fale-nos um pouco de sua trajetória esportiva no ciclismo e aproveite para destacar as suas principais conquistas com sua bike.
R: Só para lembrar que o esporte tocantinense ainda é quase 100% “amador”, com poucas exceções, e continuará por muito tempo assim, até que se mude a política do esporte.
O ciclismo, até mês passado, era o esporte no qual eu mais me dedicava. No meu primeiro ano de ciclismo, fui campeão municipal, e vice-campeão estadual na categoria aspirante (iniciante), isto me motivou bastante, mas minha rotina de vida não me permitia passar disso. Em 2006, me dediquei ao curso de formação, então cheguei a treinar nem 3 mil km no ano. Ganhei algumas etapas de duathlon e ciclismo, mas nada expressivo. Em 2007 não foi diferente, trabalhando mais, estudando mais e treinando menos, mas ainda assim, aquele foi meu ano de estréia no triathlon, consegui ficar entre os 03 melhores do Estado e campeão na categoria militar na Copa Centro Oeste de Triathlon, que na época era na distância olímpica(1,5k + 40k + 10k). O ano de 2008 foi quase igual ao anterior. Participei de poucas provas e até obtive êxito, mas nada de relevante. 2009 foi um ano de aprendizado. Participei de uma prova de aventura por equipes, foi onde eu percebi que minha praia é o esporte individual. Gosto muito de cobrar de mim mesmo, mas quando envolve mais de uma pessoa, é complicado depender do desempenho do outro e ter que cobrar, principalmente quando você não sabe das limitações dos companheiros de equipe.
Quase desisti do esporte! Dois meses de recuperação, dois meses de reflexão. Esse foi meu maior treinamento até hoje, o mental. Voltei mais forte e experiente. Treinei por 02 meses, e retornei na 3ª etapa do Campeonato Tocantinense de Ciclismo, um Contra Relógio de 4 km, fiz média de 51,3 km/h, ganhei a etapa e o titulo de Campeão Tocantinense de Contra Relógio na categoria Elite. Na 4ª etapa, que era circuito, graças ao bom trabalho de equipe, também ganhei. Participei da 5ª etapa, a corrente da bicicleta quebrou e eu não terminei a etapa. A ultima etapa era de 150 km, e havia feito treinos de no máximo 40km. Naquele dia, o que mais me ajudou foi o trabalho mental forçado que eu havia feito meses antes. Consegui bater o líder do campeonato no sprint, depois de percorrer os 75km entre Palmas e Aparecida do Rio Negro indo e voltando. Em 2010 eu me dediquei à conclusão da faculdade. Quase não competi no ciclismo, mas em todas as provas que participei fiquei entre os 5 primeiros colocados. Fiz a Copa Centro Oeste de Triathlon também, melhorei meu tempo e fui campeão da categoria novamente. No inicio de 2011 eu não estava focado em nada, mas tinha planos de participar do Iron de 2012. Participei de algumas provas de corrida, treinos de triathlon, provas de ciclismo, travessias de natação, e em julho iniciei uma das etapas mais importantes da minha vida. Fiz a inscrição para participar do Ironman Brasil 2012!

3)A maioria dos participantes inscritos demonstra certo viés para a prática do triatlo. Com você, pelo visto, não é diferente. Em sua opinião, entre os amadores, os triatletas entram em vantagem para uma prova de longa distância como os 16,5 km do I Desafio dos Fortes?
R:Não acredito nessa vantagem dos triatletas amadores, pois o Triathlon aqui no Estado, na realidade, está começando agora, e da forma que eu acho correta, com provas de Sprint ou Short triathlon...750 m de natação, 20 km de ciclismo e 5 km de corrida. Aos poucos, estes que hoje fazem esta distância, completarão as distâncias: de olímpico e de meio Iron man, com facilidade assim como é hoje. O que realmente faz a diferença é a dedicação. Aqueles que treinam com regularidade, como acontece com muitos nas Assessorias Esportivas, fazendo pelo menos um treino longo por semana, sim levarão vantagem em concluir e bem os 16,5 k do Desafio dos Fortes.


4) Soubemos que você recentemente conseguiu concretizar sua inscrição no Ironman de 2012, em Floripa. Parabéns, mas a tarefa não será fácil...Serão 3,8 km de natação, 180 km de pedal, e uma Maratona (42 km de corrida). Não é pra qualquer um... os 16 km do nosso Desafio devem ser apenas um treino pra você, não? Pelas regras daquela competição os primeiros colocados garantem vaga para disputar outra prova, ainda mais concorrida, no Havaí, junto com os melhores triatletas do mundo. Considerando suas perspectivas para aquela prova, podemos sonhar com a possibilidade de termos um corredor tocantinense conseguindo esse feito inédito? O investimento para se alcançar uma boa colocação no Ironman deve ser alto... É possível chegar lá apenas com recursos próprios ou a obtenção de um patrocínio é algo imprescindível, no seu caso?
R:Essa será uma das maiores realizações da minha vida, não só como atleta. Há tempos eu sonhava em participar de um Ironman. Consegui fazer a inscrição no final de julho, pedi ajuda a alguns amigos, fizemos uma vaquinha, peguei dinheiro emprestado com meu sogro, e paguei a inscrição, agora estou pagando aos poucos o que peguei emprestado. O caminho até a prova é longo, e a preparação é mais difícil do que a prova em si. O Desafio dos Fortes será um bom treino para mim. Estou focado para chegar em maio do ano que vem na minha melhor forma. Mudei meu estilo de treinar, estou explorando mais a corrida e já sinto melhoras nesse pouco tempo de treino especifico. Meus objetivos para o Ironman são ambiciosos. Sei do que sou capaz, e por isso, alguns me acham prepotente, mas a verdade é que não aprendi a lidar com algumas coisas, como a forma de me expressar perante alguns tipos de perguntas relacionados a rendimento, capacidade, etc., sem que eu parecesse um cara chato. O que quero dizer, é que eu, assim como qualquer outra pessoa, sou capaz de conseguir o que estou planejando, só preciso treinar direito até lá.
Tudo na vida é treino!
É possível sim, ter um atleta no Hawaii, disputando a prova mais importante de triathlon de longa distância do mundo, e vou treinar para isso. Se não der em 2012, será em 2013, 2014... meu pensamento é o seguinte: se no dia da prova, eu ‘não estiver bem’, meu objetivo será terminá-la, pois o IRONMAN é uma prova para ser respeitada. Se eu estiver ‘mais ou menos’ no dia, quero terminar abaixo de 10 horas, se eu estiver ‘bem’ no dia, farei abaixo de 9 horas e 30 minutos, e então buscarei a vaga para o Ironman do Hawaii. Daria algo como 1 hora nadando, 5 horas pedalando e 3:15h correndo. Mas não estou treinando pensando no tempo, dia após dia irei evoluindo e colhendo os frutos do treinamento.
Se há possibilidade de chegar lá sem patrocínio ou apoio, definitivamente NÃO!
Como disse anteriormente, para pagar a inscrição, que é muito cara, precisei pedir ajuda para algumas pessoas, até o namorado da minha cunhada(que eu ainda não conheço), que mora em Rondônia, me ajudou, e mesmo assim ainda não foi possível juntar todo o dinheiro.
Vou me virando até conseguir um patrocínio, mas não vou deixar a peteca cair. Minha bicicleta de contra relógio quebrou durante um treinamento e passei a treinar com uma emprestada, troquei o quadro de estrada que eu tinha por um de menor valor mais uma parte em dinheiro para cobrir minha despesa inicial, agora estou terminando de montar esta bicicleta e vou rifar para comprar equipamentos como roupa de borracha para natação e tênis de treino e competição. O custo é alto: alimentação, suplementação, equipamentos, estadia, passagem, etc. O único apoio concreto, além da família e amigos – que me ajudaram com parte da inscrição -, é o da ‘Marco Túlio Assessoria Esportiva’ que é responsável por todo o meu treinamento.
Espero conseguir algum tipo de apoio, patrocínio ou doação o mais rápido possível, pois o período de preparação é longo e mais complicado do que a própria competição e até maio participarei de dezenas de outras provas nas mais variadas modalidades como preparação.

5)Sabemos que o esporte, no Brasil, não tem como sobreviver sem o apoio estatal, mas este nem sempre vem se mostrando suficiente, ou mesmo eficiente, para oferecer o adequado suporte aos atletas. Por outro lado, a iniciativa privada vem cada vez se mostrando uma grande parceira na manutenção e desenvolvimento do esporte no país. O corredor tocantinense Eliésio Miranda, destaque nacional nas corridas de rua, por exemplo, somente esse ano conseguiu obter apoio de uma empresa privada estabelecida no Estado – a Intensicare Gestão de UTI. Em sua opinião, o que estaria faltando para a iniciativa privada se engajar, firmemente, no apoio ao esporte em nosso Estado?  Não temos outros atletas talentosos que poderiam ser patrocinados? Você não acha que a criação de incentivos fiscais, por parte do Governo do Estado, para as empresas que apoiem o esporte, poderia ser um primeiro e importante passo?
R:Sem duvida nenhuma que a melhor forma de ‘ajudar’ o esporte seria com a criação de uma Lei de Incentivo Fiscal, como em outros Estados. As empresas ajudariam o atleta e o valor seria abatido no ICMS, por exemplo. Na maioria das vezes em que empresas ajudam atletas de forma direta, como no caso citado, elas o fazem mais pela amizade do que visando algum retorno. Esse é um assunto discutido rotineiramente, em todo o País, por atletas dos mais variados esportes.

6) Pode se dizer que o I Desafio dos Fortes é uma idéia ousada. Não parte de uma iniciativa do poder público e ao mesmo tempo não é assegurada, ao menos inicialmente, pelo patrocínio privado. O modelo sugere que os próprios atletas busquem se unir para criar as oportunidades para a prática esportiva. Ainda não é possível afirmar que o evento será um sucesso. No entanto, a prova impressiona, até mesmo ao mais otimista organizador, pela massiva receptividade junto aos praticantes de corrida de rua, e já vem recebendo, apesar da cobrança de valores para a inscrição, adesões de atletas de todas as regiões de Palmas, e até mesmo de outros municípios, sem qualquer distinção de classe social ou mesmo de nível técnico.
Como você encara esse fenômeno? Seria esse um modelo possível para solucionar uma aparente ineficácia da atuação estatal, nas diversas instâncias, no que se refere ao estímulo à prática esportiva em nosso Estado?
Você acha que iniciativas como esta poderiam despertar nas empresas o interesse em contribuir com o desenvolvimento do esporte no Tocantins?
R: Não vejo essa idéia como ousada, por que é utilizada de Norte a Sul do Brasil e dá certo!
Parabéns pela iniciativa.
O próprio Ironman começou com poucos participantes, hoje é limitado a quase 2000 atletas e o lucro do organizador é milionário. O que falta é empresa especializada, mas sabemos que há público e que cresce a cada dia o número de praticantes. A corrida está virando moda! Um vê o outro praticando e fica com vontade de fazer também. Isso é ótimo para o esporte.
Espero que apareçam mais iniciativas como esta e que se torne tradição.

7) A falta de ética é considerada um dos grandes males da nossa sociedade e atinge inclusive o esporte profissional. Nesse sentido, é cada vez mais comum que atletas consagrados sejam flagrados usando substâncias consideradas como dopping. Na sua opinião, é possível ser um atleta de alto nível  sem o uso de substâncias proibidas no esporte?
Pode até ser possível chegar ao topo sem se dopar, mas demora mais que o dobro do tempo, e a preparação tem que começar o quanto antes possível.
Este é um assunto muito delicado e complicado.
É sabido que a maioria de praticantes de atividades esportivas no Brasil é composta por amadores. Logo, em uma prova de corrida, onde não seja exigido índice para inscrição, haverá um maior número de pessoas que entram por prazer, para manter a saúde, ou ultrapassar seus limites. Esse último grupo, dentro do grupo de amadores, é a maior porção responsável pelo consumo de substancias proibidas. E isso é o que mais me preocupa. Recentemente perdi um grande amigo por uso de anabolizantes, mas o que vejo é que mesmo com as informações disponíveis, as pessoas acham que compensa. Sinceramente, não consigo imaginar uma solução para esse problema que não seja a realização de exames antidoping, mas estes custam muito caro. Acho que depende mais conscientização do que qualquer outra coisa.

Obrigado pelo espaço.
Bons treinos e ótimas provas para todos nós!

Valeu, Vander,
Força nos treinos

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